domingo, 8 de maio de 2011

Por que um corvo é igual a uma escrivaninha ?

Esta charada foi proposta pelo Chapeleiro Maluco à Alice.

O próprio L. Carroll não tinha um resposta quando a escreveu. Devido à curiosidade dos leitores, ele escreveu o seguinte prefácio na sua edição de 1896.

"Enquiries have been so often addressed to me, as to whether any answer to the Hatter’s Riddle can be imagined, that I may as well put on record here what seems to me to be a fairly appropriate answer, viz: "Because it can produce a few notes, tho they are very flat; and it is nevar put with the wrong end in front!" This, however, is merely an afterthought; the Riddle as originally invented, had no answer at all."

Muitas perguntas tem sido frequentemente feitas sobre possíveis respostas à charada do chapeleiro, que eu registrarei aqui o que poderia ser uma resposta bastante adequada : "Porque a escrivaninha e o corvo podem produzir algumas poucas notas, embora sejam muito simples e a parte de trás nunca é colocada para frente". Contudo isso é meramente uma idéia secundária. A charada, em sua origem, não tinha resposta.


Obs.: Nesta resposta "inventada" por Carroll novamente nos deparamos com os desafios de tradução. A mesma palavra se reportando a dois sentidos diferentes. "Notes" serve tanto para "notas musicais do corvo", como "notas escritas na escrivaninha". NEVAR que aparentemente parece ser um NEVER com grafia errada é inteligentemente RAVEN escrito de trás para frente, o que "contradiz" a afirmação que "nunca é colocado com a parte de trás para frente". Esse homem era realmente um gênio do jogo de palavras.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Perguntas comuns - Carroll usava drogas ?

Não. Carroll não usou drogas ao escrever a estória. Uma boa parte da estória foi inventada quando ele estava num passeio de bote com um amigo, Alice e suas irmãs. O rumor sobre drogas apareceu na década de 60 por quem apoiava a então nova subcultura do LSD.
Algumas pessoas insistem que um escritor tem que estar usando drogas para inventar uma estória tão criativa. Mas será que não se pode ter uma mente criativa sem necessidade de estímulos ?

Se Carroll estava usando drogas, os livros de Alice provavelmente seriam uma série de cenários desconexos e surrealistas, mas eles não foram escritos aleatoriamente. Eles contêm complicados problemas de lógica e metáforas muito inteligentes (sem mencionar a viagem de Alice pelo País dos Espelhos, que segue os movimentos de um jogo de xadrez). Só poderiam ser o trabalho de uma mente brilhante em pleno controle de suas habilidades. Além disso, encontramos o mesmo estilo de texto em revistas para as quais ele escreveu quando jovem, em seus inúmeros poemas, estórias e outros manuscritos e especialmente nas cartas por ele redigidas. Se os livros de Alice foram gerados por ingestão de drogas, o resto de seu volumoso trabalho poderia sugerir que seu autor estivesse 24 horas sob efeito alucinógeno.

Há, com certeza, uma parte do livro que pode descrever o uso de drogas : a largarta fumando narguille que avisa Alice para comer um pouco do cogumelo. No entanto, Carroll aproveita a estória para fazer piada de todos os aspectos da sociedade e é possível que ele estivesse refletindo a época vivida nessa passagem (notar que este capítulo não fazia parte da estória original, mas foi acrescentado depois !). Na era Vitoriana não havia leis sobre uso de drogas como conhecemos hoje. O ópio, a cocaína e o laudanio (um analgésico que continha ópio) era usado para fins médicos e podia ser obtido com um farmacêutico. Leve em consideração que o LSD nem tinha sido inventado ainda.

Dessa forma, na época de Carroll, era comum experimentar a sensação de estar “alto”, acidentalmente ou não. Contudo, definitivamente não foi a intenção de Carroll escrever um livro sobre drogas. Nenhuma evidência foi encontrada que ligasse Carroll ao uso de drogas. Mesmo nos seus diários, ele nunca mencionou qualquer coisa relativa ao uso de drogas.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Crescer não é fácil

(tradução parcial do texto de Jerry Maata)

Fica evidente que a história foi escrita para as três meninas Liddell, das quais Alice era a mais próxima de Dodgson. No poema introdutório, há indicações claras das três meninas, lá designadas Prima, Secunda e Tertia - primeiro, segundo e terceiro em latim, em suas formas femininas.

Na aparência, a história da Alice caindo em um buraco de coelho e entrando num mundo bobo e sem sentido, é bem ingênua. A estória nas entrelinhas, sobre uma menina atingindo a maturidade, longe de casa, em um mundo governado pelo caos e o absurdo, é bem assustadora. Durante todo o tempo, Alice se confronta, totalmente sozinha, com situações que envolvem animais diferentes e curiosos. Ela não conta com ajuda da família ou do mundo lá fora. Lewis Carroll descreve a queda pelo buraco do coelho como sendo muito longa e menciona prateleiras com livros ao longo das paredes do buraco. Talvez seja uma indicação da fuga através da literatura.

A parte em que Alice cresce e encolhe poderia sugerir os altos e baixos da adolescência, quando os jovens oscilam entre o sentimento de maturidade e infantilidade. A hesitação, tão típica de adolescentes, está refletida nos pensamentos de Alice : "Normalmente ela se dava bons conselhos (embora raramente os seguisse)" Muitos comentários breves apontam para imprudência, inquietação e ansiedade na adolescência.

Um outro exemplo de amadurecimento é o fato de Alice ir se acostumando aos seus novos tamanhos. Ela conversa com seus pés e aprende a nova maneira que seu corpo funciona. Seus sentimentos estão muito abalados pelas novas aventuras e ela chora com freqüência, quando parece ser impossível obedecer às regras do País das Maravilhas. Ou seria isso a fase adulta chegando ? "Tudo está tão confuso por aqui", Alice repete. Ela não gosta dos animais que a tratam como criança, mas, às vezes, fica amedrontada pela responsabilidade que lhe é incumbida. A citação "Todo mundo no País das Maravilhas é louco, de outra forma não estariam aqui" feita pelo Cheshire Cat pode ter um significado existencial. Todo mundo vivo é louco por estar vivo ou todo mundo sonhando é louco pela fuga da realidade ?

Considerando-se que o primeiro manuscrito foi chamado de “As aventuras de Alice no subterrâneo”, fica mais evidente que o mundo em que Alice entra não é apenas um “parquinho” infantil, mas um lugar perigoso e assustador para o amadurecimento. O “subterrâneo” do antigo título sugere, inegavelmente, um paralelo com o Inferno de Dante ou a Bíblia.
Ainda nesse contexto, o magnífico jardim em que Alice quer chegar pode ser um símbolo do Jardim do Éden. Pode-se presumir que Dodgson, sendo um clérigo e um homem estritamente religioso, estava muito familiarizado com os mitos bíblicos, assim como o Paraíso Perdido de Milton. É interessante que, quando Alice finalmente chega no jardim, ela encontra um baralho de cartas no comando, sendo liderado por uma rainha muito má. Parece uma forma de dizer que até mesmo o Jardim do Éden pode ser um caos ou que o jardim não é realmente aquilo que parece ser. E ainda, considerando sua ironia Victoriana, uma maneira de dizer que nossa vida na Terra está o mais próximo possível do paraíso, que é governado por uma Rainha maligna sem o menor respeito pelas vidas humanas. Estas teorias são, naturalmente, apenas especulações.

Talvez a primeira história é uma descrição de uma menina crescendo e saindo da vida de alguém após se tornar adulta. Dodgson perdeu contato com Alice Liddell, em 1868, alguns anos antes da edição do segundo livro. Parece que o primeiro livro é uma homenagem a uma amiga que, com o tempo, se afastará dele e que o segundo, considerando o seu tom, é um epitáfio.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Paródias

Quando a Duquesa diz :

"Take care of the sense and the sounds will take care of themselves”
(Cuide do sentido que os sons se cuidam sozinhos)


o autor está parodiando um velho ditado inglês :

“Take care of the pence and the pounds will take care of themselves”
“Cuide dos centavos que as libras se cuidam sozinhas”

Você sabia ??????

O Chapeleiro Maluco :
Na época de Carroll era comum encontrar chapeleiros loucos, porque se usava mercúrio na fabricação de chapéus e essa substância intoxicava e enlouquecia.

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A Lebre de Março :
Em março, com o começo da primavera no hemisfério Norte, as lebres estão no cio e ficam agitadas, como loucas.


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O Gato de Cheshire :
Era comum na época a expressão “to grin like a Cheshire Cat” (“sorrir como um gato de Cheshire”) – justamente a região em que o autor nasceu), porque o famoso queijo de Cheshire era fabricado num molde que tinha a forma de um gato sorrindo.

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quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Uma escola diferente (3ª parte)

Em outro momento, a Tartaruga fala dos diferentes ramos da Aritmética.

`and then the different branches of Arithmetic -
Ambition, Distraction, Uglification, and Derision.'

As palavras acima tem sonoridade semelhante às quatro divisões reais da Aritmética em inglês :

Addition, Subtraction, Multiplication, and Division

Uma escola diferente (2ª parte)

A Tartaruga Falsa continua a narração sobre sua escola, contando que nunca tivera aulas com o velho professor caranguejo que ensinava as línguas clássicas.

“‘I never went to him, the Mock Turtle said with a sigh: ‘he taught Laughing and Grief, they used to say’.”

No trecho acima podemos encontrar um trocadilho com a semelhança fonológica entre “Laughing” (riso) e “Latin” (Latim) + “Grief” (pesar) e “Greek” (Grego).


Qualquer palavra usada em português para expressar Riso e Pranto não terá a semelhança sonora com Latim e Grego. Os tradutores terão de fazer uma opção entre traduzir as palavras, perdendo o jogo de som ou buscar outras palavras que possam recriar o som semelhante de grego/latim.

Vamos ver as soluções encontradas :

"- Nunca frequentei o curso dele - disse a Falsa Tartaruga com um suspiro. - Dizem que ensinava Pantim e Gaguejo."
(Uchoa)
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“– Nessa aula não estive – disse a Tartaruga – porque nela se ensinava a rir e a chorar e eu não fui feita para rir.”
(Lobato)
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“– Eu nunca assisti às aulas dele – disse a Falsa Tartaruga com um suspiro. – Pelo que dizem, ele ensinava Gringo e Latir”
(Sevcenko)
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“‘Nunca fiz esse curso’, disse a Tartaruga Falsa com um suspiro. ‘Ele ensinava a Latir o riso e a Gretar a mágoa, é o que diziam’.”
(Eichenberg)
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“‘Nunca estudei com ele...’. comentou a Tartaruga Falsa com um suspiro; ‘ensinava Latido e Emprego, pelo que diziam.’”
(Borges)