
No capítulo 6, Porco e Pimenta, há um diálogo entre Alice e a Duquesa. Carroll faz aqui uma brincadeira com as palavras homófonas AXIS (eixo) e AXE (machado) :
“‘(...) You see the earth takes twenty-four hours to turn round on its axis --- ´
–‘Talking of axes,’ said the Duchess, ‘chop off her head!’”
Veja algumas soluções encontradas pelos tradutores :
“Pois, como a senhora sabe, a Terra leva 24 horas para dar uma volta em seu próprio eixo... Para a ciência, foi um achado...
– Por falar em machado – disse a Duquesa – corte a cabeça dela!”
(Nicolau Sevcenko)
---------------------------------------------------------------------------------------------
“Como a senhora sabe, a terra leva vinte e quatro horas para girar em torno do seu eixo.
– Por falar em eixo, corte o queixo dela, cozinheira! – gritou a Duquesa
(Monteiro Lobato)
---------------------------------------------------------------------------------------------
“‘(...) Veja, a Terra leva vinte e quatro horas para completar sua revolução...’
‘Por falar em revolução’, disse a Duquesa, ‘cortem-lhe a cabeça!"
(Borges)
---------------------------------------------------------------------------------------------
“Porque, se a terra leva vinte e quatro horas para girar em torno do seu eixo ...
- E por falar em queixo – disse a Duquesa – cortem a cabeça dela !”
(Ana Maria Machado)
---------------------------------------------------------------------------------------------
A senhora sabe que a Terra tem que levar vinte e quatro horas para girar em torno do seu eixo.
- Eixo? O que é isso? Eu conheço a palavra queixo, não conheço a palavra eixo. Por falar nisso, segure-a pelo queixo e corte-lhe a cabeça!
(Fernanda Lopes de Almeida)
A maioria dos tradutores optou por manter a primeira palavra-chave "Eixo" e procurar uma outra com a qual pudessem fazer a ligação sonora. Parece que a palavra mais viável foi "queixo".
Um deles (Borges) substituiu as duas por "revolução".
Somente Sevcenko manteve "eixo" e acrescentou uma frase com "achado" para fazer o jogo sonoro com "machado".
Na minha opinião, Sevcenko fez a melhor escolha. O fato da Duquesa ter ouvido machado, trouxe-lhe a idéia do "Cortem sua cabeça."
"Cortar a cabeça" é uma constante no livro. Trocar essa expressão por "cortar o queixo" destrói a ironia que Carroll faz com a pena de morte na era Vitoriana.
Um comentário:
Acho que a tradução de Ana M. Machado é pobre, mesmo a duquesa 'ser' uma pessoa racional, essa associação de queixo e a ordem de cortar a cabeça foi forçado demais.
Postar um comentário