quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Uma escola diferente (3ª parte)
Em outro momento, a Tartaruga fala dos diferentes ramos da Aritmética.
`and then the different branches of Arithmetic -
Ambition, Distraction, Uglification, and Derision.'
As palavras acima tem sonoridade semelhante às quatro divisões reais da Aritmética em inglês :
Addition, Subtraction, Multiplication, and Division
`and then the different branches of Arithmetic -
Ambition, Distraction, Uglification, and Derision.'
As palavras acima tem sonoridade semelhante às quatro divisões reais da Aritmética em inglês :
Addition, Subtraction, Multiplication, and Division
Uma escola diferente (2ª parte)
A Tartaruga Falsa continua a narração sobre sua escola, contando que nunca tivera aulas com o velho professor caranguejo que ensinava as línguas clássicas.
“‘I never went to him, the Mock Turtle said with a sigh: ‘he taught Laughing and Grief, they used to say’.”
No trecho acima podemos encontrar um trocadilho com a semelhança fonológica entre “Laughing” (riso) e “Latin” (Latim) + “Grief” (pesar) e “Greek” (Grego).
"- Nunca frequentei o curso dele - disse a Falsa Tartaruga com um suspiro. - Dizem que ensinava Pantim e Gaguejo."
(Uchoa)
------------------------------------------------------------------------------
“– Nessa aula não estive – disse a Tartaruga – porque nela se ensinava a rir e a chorar e eu não fui feita para rir.”
(Lobato)
-------------------------------------------------------------------------------
“– Eu nunca assisti às aulas dele – disse a Falsa Tartaruga com um suspiro. – Pelo que dizem, ele ensinava Gringo e Latir”
(Sevcenko)
------------------------------------------------------------------------------
“‘Nunca fiz esse curso’, disse a Tartaruga Falsa com um suspiro. ‘Ele ensinava a Latir o riso e a Gretar a mágoa, é o que diziam’.”
(Eichenberg)
------------------------------------------------------------------------------
“‘Nunca estudei com ele...’. comentou a Tartaruga Falsa com um suspiro; ‘ensinava Latido e Emprego, pelo que diziam.’”
(Borges)
“‘I never went to him, the Mock Turtle said with a sigh: ‘he taught Laughing and Grief, they used to say’.”
No trecho acima podemos encontrar um trocadilho com a semelhança fonológica entre “Laughing” (riso) e “Latin” (Latim) + “Grief” (pesar) e “Greek” (Grego).
Qualquer palavra usada em português para expressar Riso e Pranto não terá a semelhança sonora com Latim e Grego. Os tradutores terão de fazer uma opção entre traduzir as palavras, perdendo o jogo de som ou buscar outras palavras que possam recriar o som semelhante de grego/latim.
Vamos ver as soluções encontradas :
"- Nunca frequentei o curso dele - disse a Falsa Tartaruga com um suspiro. - Dizem que ensinava Pantim e Gaguejo."
(Uchoa)
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“– Nessa aula não estive – disse a Tartaruga – porque nela se ensinava a rir e a chorar e eu não fui feita para rir.”
(Lobato)
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“– Eu nunca assisti às aulas dele – disse a Falsa Tartaruga com um suspiro. – Pelo que dizem, ele ensinava Gringo e Latir”
(Sevcenko)
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“‘Nunca fiz esse curso’, disse a Tartaruga Falsa com um suspiro. ‘Ele ensinava a Latir o riso e a Gretar a mágoa, é o que diziam’.”
(Eichenberg)
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“‘Nunca estudei com ele...’. comentou a Tartaruga Falsa com um suspiro; ‘ensinava Latido e Emprego, pelo que diziam.’”
(Borges)
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Uma escola diferente (1ª parte)
No capítulo 9, "A História da Falsa Tartaruga". A Rainha pede ao Grifo que apresente Alice à Tartaruga Falsa para que esta possa contar-lhe sua história.
A Tartaruga começa, então, a falar da época em que ia à escola do mar.
E aí começa um ótimo jogo de sentido e sons criado por Carroll :
`I only took the regular course.'
`What was that?' inquired Alice.
`Reeling and Writhing, of course, to begin with,' the Mock Turtle replied;
A Tartaruga Falsa fazia o curso regular da escola, que começava pelas matérias básicas :
Reeling and Writhing.
Reading and Writing (ler e escrever) são a base de qualquer ensino. Carroll escontrou duas palavras que tinham a sonoridade semelhante, mas foi muito além do som. Ele se preocupou com o significado, utilizando palavras relacionadas ao tema "marítimo".
Reeling significa o ato de recolher a linha na carretilha de uma vara de pescar.
Writhing significa o ato de contorcer-se, debater-se (como um peixe fisgado faria para livrar-se do anzol)
Traduções encontradas :
"-As belas-tretas e o bom estrilo, para começar, é claro."
(Uchoa)
-----------------------------------------------------------------------------
´Língua Pétrea e Taburrada para começar´, é claro !
(Scevenko)
------------------------------------------------------------------------------
´Bom, para começar, a gente tinha as primeiras letras e aprendia Leiteira e Distrita.´
(Ana Maria Machado)
------------------------------------------------------------------------------
“Enrolação e Contorção, é claro, para começar”
(Clélia Ramos)
A Tartaruga começa, então, a falar da época em que ia à escola do mar.
E aí começa um ótimo jogo de sentido e sons criado por Carroll :
`I only took the regular course.'
`What was that?' inquired Alice.
`Reeling and Writhing, of course, to begin with,' the Mock Turtle replied;
A Tartaruga Falsa fazia o curso regular da escola, que começava pelas matérias básicas :
Reeling and Writhing.
Reading and Writing (ler e escrever) são a base de qualquer ensino. Carroll escontrou duas palavras que tinham a sonoridade semelhante, mas foi muito além do som. Ele se preocupou com o significado, utilizando palavras relacionadas ao tema "marítimo".
Reeling significa o ato de recolher a linha na carretilha de uma vara de pescar.
Writhing significa o ato de contorcer-se, debater-se (como um peixe fisgado faria para livrar-se do anzol)
Traduções encontradas :
"-As belas-tretas e o bom estrilo, para começar, é claro."
(Uchoa)
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´Língua Pétrea e Taburrada para começar´, é claro !
(Scevenko)
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´Bom, para começar, a gente tinha as primeiras letras e aprendia Leiteira e Distrita.´
(Ana Maria Machado)
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“Enrolação e Contorção, é claro, para começar”
(Clélia Ramos)
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
QUESTIONÁRIO
1. O que a Lagarta está fumando ?
a) Um cachimbo
b) Um narguile
c) Um cogumelo
d) Uma essência de maçâ
2. Qual personagem Alice assusta ao falar de sua gatinha Diná ?
a) A Tartaruga Falsa
b) A Lebre de Março
c) O Rato
d) O Valete de Copas
3. Qual personagem serve de mensageiro para o Rei e a Rainha de Copas ?
a) O Grifo
b) O Coelho Branco
c) O Valete de Copas
d) O Leirão
4. Qual personagem parece adorar melado ?
a) O Dodô
b) O Papagaio
c) O Cozinheiro
d) O Leirão
5. Quem condenou o Chapeleiro à eterna hora do chá ?
a) A Rainha de Copas
b) Alice
c) A Lebre de Março
d) O Tempo
6. Como Alice entra, pela segunda vez, no grande salão com portas ?
a) Pela porta em uma árvore
b) Por um buraco debaixo da mesa do Chapeleiro
c) O Gato Cheshire lhe ensina o caminho
d) Ela anda para trás
7. O que é o Jabberwock ?
a) Um camarão assassino
b) Um primo do Grifo
c) Uma tigela falante de arroz
d) Um monstro assustador
8. Quais das personagens abaixo é mais amável com Alice durante suas aventuras ?
a) O Coelho Branco
b) O Rei Branco
c) A Tartaruga Falsa
d) Humpty Dumpty
9. Como Alice entra no jogo de xadrez ?
a) Como observadora
b) Como juíza
c) Como um peão branco
d) Como um peão vermelho
10. Qual animal abaixo NÃO é uma personagem ?
a) Uma aguiazinha
b) Um pato
c) Um cachorro
d) Um tubarão
11. Qual foi a última coisa que Alice viu o Chapeleiro e a Lebre fazer ?
a) Comer os pratos
b) Enfiar o Leirão na chaleira
c) Passar manteiga no relógio do Chapeleiro
d) Tomar chá e cantar
12. Onde a Borboleta mora ?
a) Em uma semente de mostarda
b) No chá fraco com creme
c) No chá com creme fraco
d) Geléia de levedo
13. Quantas rainhas há ao todo em ambas as histórias (Alice no Pais das Maravilhas e no País dos Espelhos) ?
a) 2
b) 3
c) 4
d) 5
14. De acordo com Alice, qual é o elemento comum na poesia do Pais dos Espelhos ?
a) Peixe
b) Cabelo
c) Monstros
d) Erva-de-gato
15. Qual personagem mais chora nas histórias ?
a) A Tartaruga
b) O Mosquito
c) O Rei Branco
d) Alice
16. Qual é a última coisa que se vê antes do Gato Cheshire desaparecer ?
a) Seus olhos
b) Sua cauda
c) Seu sorriso
d) Ele desaparece por completo
17. Qual é o segredo que o Grifo revela sobre a Rainha de Copas ?
a) Ela é quem roubou as tortas
b) Ela nunca executa ninguém
c) Ela gosta de sentar nos ratinhos para “suprimi-los”
d) Apesar dos gritos, ela é uma mulher bondosa
18. O que Alice segura para a Rainha Branca ?
a) Sua capa
b) Sua coroa
c) Seu xale
d) Seu broche
19. Qual dupla de personagens de Alice no País das Maravilhas reaparece com nomes diferentes em Alice no País dos Espelhos ?
a) A Tartaruga Falsa e o Grifo
b) O Dodô e o Papagaio
c) O Chapeleiro e a Lebre de Março
d) A Rainha e o Rei de Copas
20. Qual personagem conduz Alice através da floresta em Alice no País dos Espelhos ?
a) O Corço
b) O Mosquito
c) A Rainha Branca
d) O Unicórnio
21. Qual flor fala primeiro com Alice ?
a) A Rosa
b) O Lírio
c) A Violeta
d) As Margaridas
22. O que faz Tweedledum e Tweedledee eventualmente parar de brigar ?
a) Um estrondo
b) Um cachorro furioso
c) Uma cascavel
d) Um corvo
23. Qual personagem explica o “Jabberwocky” para Alice ?
a) A Rainha Vermelha
b) Tweedledee
c) Tweedledum
d) Humpty Dumpty
24. O que o Rei Branco considera ser sua invenção mais inteligente ?
a) Um novo tipo de capacete
b) Um aperitivo de pizzaria
c) Um novo pudim inventado durante o prato principal.
d) Uma forma de evitar a calvície
25. De acordo com a cozinheira em Alice no País das Maravilhas, qual é o ingrediente principal das tortas ?
a) Melado
b) Rabada
c) Pimenta
d) Mata-borrão
Respostas :
1b - 2c - 3b - 4d - 5d - 6a - 7d - 8b - 9c - 10d - 11b - 12b - 13c - 14a
15d - 16c - 17b - 18c - 19c - 20a - 21b - 22d - 23d - 24c - 25c
a) Um cachimbo
b) Um narguile
c) Um cogumelo
d) Uma essência de maçâ
2. Qual personagem Alice assusta ao falar de sua gatinha Diná ?
a) A Tartaruga Falsa
b) A Lebre de Março
c) O Rato
d) O Valete de Copas
3. Qual personagem serve de mensageiro para o Rei e a Rainha de Copas ?
a) O Grifo
b) O Coelho Branco
c) O Valete de Copas
d) O Leirão
4. Qual personagem parece adorar melado ?
a) O Dodô
b) O Papagaio
c) O Cozinheiro
d) O Leirão
5. Quem condenou o Chapeleiro à eterna hora do chá ?
a) A Rainha de Copas
b) Alice
c) A Lebre de Março
d) O Tempo
6. Como Alice entra, pela segunda vez, no grande salão com portas ?
a) Pela porta em uma árvore
b) Por um buraco debaixo da mesa do Chapeleiro
c) O Gato Cheshire lhe ensina o caminho
d) Ela anda para trás
7. O que é o Jabberwock ?
a) Um camarão assassino
b) Um primo do Grifo
c) Uma tigela falante de arroz
d) Um monstro assustador
8. Quais das personagens abaixo é mais amável com Alice durante suas aventuras ?
a) O Coelho Branco
b) O Rei Branco
c) A Tartaruga Falsa
d) Humpty Dumpty
9. Como Alice entra no jogo de xadrez ?
a) Como observadora
b) Como juíza
c) Como um peão branco
d) Como um peão vermelho
10. Qual animal abaixo NÃO é uma personagem ?
a) Uma aguiazinha
b) Um pato
c) Um cachorro
d) Um tubarão
11. Qual foi a última coisa que Alice viu o Chapeleiro e a Lebre fazer ?
a) Comer os pratos
b) Enfiar o Leirão na chaleira
c) Passar manteiga no relógio do Chapeleiro
d) Tomar chá e cantar
12. Onde a Borboleta mora ?
a) Em uma semente de mostarda
b) No chá fraco com creme
c) No chá com creme fraco
d) Geléia de levedo
13. Quantas rainhas há ao todo em ambas as histórias (Alice no Pais das Maravilhas e no País dos Espelhos) ?
a) 2
b) 3
c) 4
d) 5
14. De acordo com Alice, qual é o elemento comum na poesia do Pais dos Espelhos ?
a) Peixe
b) Cabelo
c) Monstros
d) Erva-de-gato
15. Qual personagem mais chora nas histórias ?
a) A Tartaruga
b) O Mosquito
c) O Rei Branco
d) Alice
16. Qual é a última coisa que se vê antes do Gato Cheshire desaparecer ?
a) Seus olhos
b) Sua cauda
c) Seu sorriso
d) Ele desaparece por completo
17. Qual é o segredo que o Grifo revela sobre a Rainha de Copas ?
a) Ela é quem roubou as tortas
b) Ela nunca executa ninguém
c) Ela gosta de sentar nos ratinhos para “suprimi-los”
d) Apesar dos gritos, ela é uma mulher bondosa
18. O que Alice segura para a Rainha Branca ?
a) Sua capa
b) Sua coroa
c) Seu xale
d) Seu broche
19. Qual dupla de personagens de Alice no País das Maravilhas reaparece com nomes diferentes em Alice no País dos Espelhos ?
a) A Tartaruga Falsa e o Grifo
b) O Dodô e o Papagaio
c) O Chapeleiro e a Lebre de Março
d) A Rainha e o Rei de Copas
20. Qual personagem conduz Alice através da floresta em Alice no País dos Espelhos ?
a) O Corço
b) O Mosquito
c) A Rainha Branca
d) O Unicórnio
21. Qual flor fala primeiro com Alice ?
a) A Rosa
b) O Lírio
c) A Violeta
d) As Margaridas
22. O que faz Tweedledum e Tweedledee eventualmente parar de brigar ?
a) Um estrondo
b) Um cachorro furioso
c) Uma cascavel
d) Um corvo
23. Qual personagem explica o “Jabberwocky” para Alice ?
a) A Rainha Vermelha
b) Tweedledee
c) Tweedledum
d) Humpty Dumpty
24. O que o Rei Branco considera ser sua invenção mais inteligente ?
a) Um novo tipo de capacete
b) Um aperitivo de pizzaria
c) Um novo pudim inventado durante o prato principal.
d) Uma forma de evitar a calvície
25. De acordo com a cozinheira em Alice no País das Maravilhas, qual é o ingrediente principal das tortas ?
a) Melado
b) Rabada
c) Pimenta
d) Mata-borrão
Respostas :
1b - 2c - 3b - 4d - 5d - 6a - 7d - 8b - 9c - 10d - 11b - 12b - 13c - 14a
15d - 16c - 17b - 18c - 19c - 20a - 21b - 22d - 23d - 24c - 25c
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terça-feira, 16 de setembro de 2008
Quem traduz a Duquesa ?

No capítulo 6, Porco e Pimenta, há um diálogo entre Alice e a Duquesa. Carroll faz aqui uma brincadeira com as palavras homófonas AXIS (eixo) e AXE (machado) :
“‘(...) You see the earth takes twenty-four hours to turn round on its axis --- ´
–‘Talking of axes,’ said the Duchess, ‘chop off her head!’”
Veja algumas soluções encontradas pelos tradutores :
“Pois, como a senhora sabe, a Terra leva 24 horas para dar uma volta em seu próprio eixo... Para a ciência, foi um achado...
– Por falar em machado – disse a Duquesa – corte a cabeça dela!”
(Nicolau Sevcenko)
---------------------------------------------------------------------------------------------
“Como a senhora sabe, a terra leva vinte e quatro horas para girar em torno do seu eixo.
– Por falar em eixo, corte o queixo dela, cozinheira! – gritou a Duquesa
(Monteiro Lobato)
---------------------------------------------------------------------------------------------
“‘(...) Veja, a Terra leva vinte e quatro horas para completar sua revolução...’
‘Por falar em revolução’, disse a Duquesa, ‘cortem-lhe a cabeça!"
(Borges)
---------------------------------------------------------------------------------------------
“Porque, se a terra leva vinte e quatro horas para girar em torno do seu eixo ...
- E por falar em queixo – disse a Duquesa – cortem a cabeça dela !”
(Ana Maria Machado)
---------------------------------------------------------------------------------------------
A senhora sabe que a Terra tem que levar vinte e quatro horas para girar em torno do seu eixo.
- Eixo? O que é isso? Eu conheço a palavra queixo, não conheço a palavra eixo. Por falar nisso, segure-a pelo queixo e corte-lhe a cabeça!
(Fernanda Lopes de Almeida)
A maioria dos tradutores optou por manter a primeira palavra-chave "Eixo" e procurar uma outra com a qual pudessem fazer a ligação sonora. Parece que a palavra mais viável foi "queixo".
Um deles (Borges) substituiu as duas por "revolução".
Somente Sevcenko manteve "eixo" e acrescentou uma frase com "achado" para fazer o jogo sonoro com "machado".
Na minha opinião, Sevcenko fez a melhor escolha. O fato da Duquesa ter ouvido machado, trouxe-lhe a idéia do "Cortem sua cabeça."
"Cortar a cabeça" é uma constante no livro. Trocar essa expressão por "cortar o queixo" destrói a ironia que Carroll faz com a pena de morte na era Vitoriana.
Carroll era o Dodô
No final do Capítulo 2, quatro novos personagens aparecem : o Pato (Duck), o Dodô (Dodo), o Papagaio (Lory) e a Aguiazinha (Eaglet), saindo encharcados da lagoa formada pelas lágrimas da Alice. Para secarem, o Dodô propõe a "Corrida das Convenções".
Estes personagens representam os participantes de um episódio real narrado por Carroll em seu diário. Ele saíra em um passeio de bote com o Reverendo Duckworth e as três irmãs Liddell : Alice, Lorina e Edith. Durante o trajeto, foram surpreendidos por uma chuva forte que os fez deixar o bote e terminar o caminho a pé.
O Pato (Duck) é o Rev. Duckworth
O Papagaio (Lory) é Lorina
A Aguiazinha (Eaglet) é Edith
O Dodô (Dodo) é Charles Dodgson (nome real de Carroll).
Mais uma vez ele brinca com as palavras. Devido a sua gagueira, às vezes pronunciava seu nome “Do-Do-Dodgson”.
Curiosidade :
Dodô era uma ave que vivia nas Ilhas Maurício e foi extinta em 1680 pela ação do homem.

Estes personagens representam os participantes de um episódio real narrado por Carroll em seu diário. Ele saíra em um passeio de bote com o Reverendo Duckworth e as três irmãs Liddell : Alice, Lorina e Edith. Durante o trajeto, foram surpreendidos por uma chuva forte que os fez deixar o bote e terminar o caminho a pé.
O Pato (Duck) é o Rev. Duckworth
O Papagaio (Lory) é Lorina
A Aguiazinha (Eaglet) é Edith
O Dodô (Dodo) é Charles Dodgson (nome real de Carroll).
Mais uma vez ele brinca com as palavras. Devido a sua gagueira, às vezes pronunciava seu nome “Do-Do-Dodgson”.
Curiosidade :
Dodô era uma ave que vivia nas Ilhas Maurício e foi extinta em 1680 pela ação do homem.

Quem é o Leirão ?
O personagem é um dos participantes da Festa Maluca do Chá. Um dorminhoco e fã de melado que não é muito bem tratado por seus companheiros, o Chapeleiro e a Lebre. Ele reaparece como testemunha no Julgamento.
Que bicho é um Leirão ?
Um rato silvestre que tem por característica a hibernação.
Em inglês DORMOUSE. Dormeous (adormecido) e Mouse (rato).
Nicolau Sevcenko optou por chamá-lo de Marmota, talvez para facilitar a compreensão pelas crianças.
Em algumas traduções, ele recebeu o nome criativo de Dormindongo.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Frases do livro
- Mas eu não quero ir parar no meio de gente maluca – observou Alice.
- Ah, mas não adianta nada você querer ou não – disse o Gato. – Nós somos todos loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louco.
- E como é que você sabe que eu sou louca ? – perguntou Alice.
- Bem, você deve ser – disse o Gato – ou então não teria vindo parar aqui.
(Alice no País das Maravilhas – Capítulo 6)
- Você poderia me dizer, por gentileza, como é que eu faço para sair daqui ?
- Isso depende muito de para onde você pretende ir – disse o Gato
- Para mim tanto faz para onde quer que seja ... – respondeu Alice.
- Então, pouco importa o caminho que você tome – disse o Gato.
- ... contanto que eu chegue em algum lugar... – acrescentou Alice, explicando-se melhor.
- Ah, então certamente você chegará lá, se você continuar andando bastante... – respondeu o Gato.
(Alice no País das Maravilhas – Capítulo 6)

E a moral disso é : “Cuide do sentido e os sons das palavras cuidarão de si mesmos”.
(Alice no País das Maravilhas – Capítulo 9)
- Ah, mas não adianta nada você querer ou não – disse o Gato. – Nós somos todos loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louco.
- E como é que você sabe que eu sou louca ? – perguntou Alice.
- Bem, você deve ser – disse o Gato – ou então não teria vindo parar aqui.
(Alice no País das Maravilhas – Capítulo 6)
- Você poderia me dizer, por gentileza, como é que eu faço para sair daqui ?
- Isso depende muito de para onde você pretende ir – disse o Gato
- Para mim tanto faz para onde quer que seja ... – respondeu Alice.
- Então, pouco importa o caminho que você tome – disse o Gato.
- ... contanto que eu chegue em algum lugar... – acrescentou Alice, explicando-se melhor.
- Ah, então certamente você chegará lá, se você continuar andando bastante... – respondeu o Gato.
(Alice no País das Maravilhas – Capítulo 6)

E a moral disso é : “Cuide do sentido e os sons das palavras cuidarão de si mesmos”.
(Alice no País das Maravilhas – Capítulo 9)
"Quando utilizo uma palavra – Humpty Dumpty disse - ela significa precisamente aquilo que eu quero que ela signifique. Nada mais, nada menos.”
"O problema está” – disse Alice – “em saber se é possível fazer com que uma palavra signifique tantas coisas diferentes".
“O problema está” – disse Humpty Dumpty – “em saber quem é que manda – ponto final."
(Alice no País dos Espelhos - Capítulo 6)
sábado, 23 de agosto de 2008
CRÔNICA DE PAULO MENDES CAMPOS
PARA MARIA DA GRAÇA
Agora, que chegaste à idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas.
Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.
Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.
A realidade, Maria, é louca.
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade Dinah, já comeste um morcego?"
Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.
A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada ou vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave. A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon" Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gato se fosses eu?" Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste.
Disse o ratinho: "A minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance só é o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energeticamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo" Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente. E escuta a parábola perfeita: Alice tinha diminuido tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor`.
Toda a pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".
Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa do, Maria da Graça.
( Paulo Mendes Campos, Para Maria da Graça, in Para gostar de ler, crônicas, São Paulo, Ática, 1979, v.4, p.73-76.)
Agora, que chegaste à idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas.
Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.
Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.
A realidade, Maria, é louca.
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade Dinah, já comeste um morcego?"
Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.
A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada ou vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave. A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon" Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gato se fosses eu?" Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste.
Disse o ratinho: "A minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance só é o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energeticamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo" Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente. E escuta a parábola perfeita: Alice tinha diminuido tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor`.
Toda a pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".
Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa do, Maria da Graça.
( Paulo Mendes Campos, Para Maria da Graça, in Para gostar de ler, crônicas, São Paulo, Ática, 1979, v.4, p.73-76.)
terça-feira, 5 de agosto de 2008
O JULGAMENTO DO VALETE DE COPAS
UM CASO DE IDENTIDADE TROCADA
by John Tufail
Todo leitor de “Alice no País das Maravilhas” conclui que no julgamento (supostamente do Valete de Copas), o prisioneiro diante da corte é realmente o Valete de Copas ! Esta é uma conclusão bem racional! Esta conclusão está baseada na quantidade de evidências textuais e extra-textuais (ilustrativas), pré-conhecimento do poema infantil citado * (mas todos nós sabemos como Carroll gostava de brincar com os poemas), na relação contextual de certos personagens-chave (o Rei e a Rainha de Copas) que ficam em posição de acusadores e, também, nas duas ilustrações do julgamento tendo como naipe predominante o símbolo de Copas.
by John Tufail
Todo leitor de “Alice no País das Maravilhas” conclui que no julgamento (supostamente do Valete de Copas), o prisioneiro diante da corte é realmente o Valete de Copas ! Esta é uma conclusão bem racional! Esta conclusão está baseada na quantidade de evidências textuais e extra-textuais (ilustrativas), pré-conhecimento do poema infantil citado * (mas todos nós sabemos como Carroll gostava de brincar com os poemas), na relação contextual de certos personagens-chave (o Rei e a Rainha de Copas) que ficam em posição de acusadores e, também, nas duas ilustrações do julgamento tendo como naipe predominante o símbolo de Copas.
* “A Rainha de Copas fez algumas tortas,
Em um dia de verão:
O Valete de Copas roubou todas elas,
E levou embora sem hesitação”
Você notou que em nenhum lugar no texto (durante o julgamento ou em qualquer outro momento) o prisioneiro que está diante da Corte é citado, diretamente ou indiretamente, como sendo o Valete de Copas ? O fato de que a IDENTIDADE do prisioneiro nunca é questionada pelo leitor é devido ao acúmulo de pistas e alusões associativas feitas pelo narrador, como na cena do jardim com o Rei e a Rainha de Copas e o “Valete”. Uma dessas alusões é a ilustração do capítulo – uma ilustração de página inteira dominando a consciência do leitor desde o princípio. Você é levado a acreditar! (você já pensou, por acaso, porque Carroll insistiu em ter controle TOTAL sobre os ilustradores) Somente quando se examina a ilustração atentamente (e quem faz isso? – Carroll é, acima de tudo, ardiloso) que se pode ver que, de todos os personagens ilustrados nesta história, o Valete é o único cuja identidade é sempre ambígua. Em todas as ilustrações do Valete (há três) ele está ambiguamente representado. Ele NUNCA é mostrado usando o naipe de Copas. Na verdade, na ilustração do capítulo, o naipe mostrado na túnica do Valete é o naipe de Paus !

Há poucos exemplos tão bons dos perigos inerentes em aceitar-se, pelo valor da aparência, as características comprobatórias da ilustração. Na verdade, aquilo que Carroll, bem deliberadamente, está fazendo aqui é desestruturar o aspecto absurdo do Julgamento porque, se, como a ilustração MOSTRA, a pessoa diante da Corte NÃO é o Valete de Copas, grande parte dos procedimentos judiciais – especialmente as evidências dadas por várias testemunhas, realmente faz sentido.
O que Carroll faz é brincar com as expectativas do leitor. A “leitura” da ilustração feita pelo leitor é determinada por suas próprias expectativas. Primeiro, a existência do poema infantil. O poema é uma realidade anexada à história. O Valete de Copas é culpado porque o poema diz que ele é. – o Valete de Copas não existe fora desse contexto. Mas todos nós sabemos qual é a visão de Carroll sobre os poemas infantis ! Por exemplo : “Brilha, brilha, morceguinho!” em vez de "Brilha, brilha, estrelinha !"
O que Carroll faz é brincar com as expectativas do leitor. A “leitura” da ilustração feita pelo leitor é determinada por suas próprias expectativas. Primeiro, a existência do poema infantil. O poema é uma realidade anexada à história. O Valete de Copas é culpado porque o poema diz que ele é. – o Valete de Copas não existe fora desse contexto. Mas todos nós sabemos qual é a visão de Carroll sobre os poemas infantis ! Por exemplo : “Brilha, brilha, morceguinho!” em vez de "Brilha, brilha, estrelinha !"
Deveríamos esperar que Carroll lançaria algum tipo de jogo semiológico* com o elemento-chave do livro – o Julgamento, mas o que não esperávamos era que ele faria isso de uma maneira tão sutil, uma vez que a maioria dos autores gosta de deixar os leitores diante de um mistério até certo nível. Infelizmente para os leitores, Carroll não é a maioria dos autores! Ele é um especialista em lógica com um sensor de humor refinado e pessoal. Para Carroll, quanto mais tempo a piada ficar em segredo, melhor ela será.
Na maioria dos livros ilustrados, as gravuras complementam o texto. O leitor olha para a ilustração para “confirmar” o conteúdo textual. Mas não é sempre assim. Na Literatura do século 19, por exemplo, a ilustração tornou-se uma ferramenta poderosa para escritores como Thackery (Feira das Vaidades) e Dickens (notavelmente em Domby and Son) para esquivarem-se da “censura universal” em assuntos como adultério – ou mesmo para desestruturar o texto escrito.
Uma vez que o leitor já fez uma conjetura sobre o julgamento baseado na cantiga infantil, ele não compreende plenamente que o julgamento é um “absurdo”, não por causa das evidências, mas porque a pessoa na tribuna não é o Valente de Copas !
Uma vez que o leitor já fez uma conjetura sobre o julgamento baseado na cantiga infantil, ele não compreende plenamente que o julgamento é um “absurdo”, não por causa das evidências, mas porque a pessoa na tribuna não é o Valente de Copas !
* Semiologia : teoria filosófica e estudo das funções dos sinais e símbolos.
Texto original em inglês :
quarta-feira, 30 de julho de 2008
INTRODUÇÃO

Ao lerem Alice no País das Maravilhas e Alice no País dos Espelhos, não esperem encontrar histórias ingênuas para entreter crianças, embora também possam servir para esse fim.
Seu autor, Lewis Carroll, conseguiu, com o seu raciocínio matemático, desestruturar toda a lógica, criando um mundo absurdo e, ao mesmo tempo, cheio de significado. Uma obra que não envelhece, mas se renova à medida que nossa idade avança e nossa capacidade de interpretação aumenta.
Convido todos, novos e antigos admiradores, para esse passeio pela toca do coelho ...
Seu autor, Lewis Carroll, conseguiu, com o seu raciocínio matemático, desestruturar toda a lógica, criando um mundo absurdo e, ao mesmo tempo, cheio de significado. Uma obra que não envelhece, mas se renova à medida que nossa idade avança e nossa capacidade de interpretação aumenta.
Convido todos, novos e antigos admiradores, para esse passeio pela toca do coelho ...
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